Alemanha vai investir € 1 bilhão no fundo global de florestas proposto pelo Brasil, anuncia ministra Marina Silva
Proposta prevê remunerar países que conservam suas florestas tropicais, mas divide opiniões entre governos e ambientalistas sobre sua eficácia e governança.
Por Roberto Peixoto, g1
Julia Duailibi: 47 países se manifestaram favoráveis à adesão ao fundo de florestas tropicais
O Brasil obteve nesta quarta-feira (19) a confirmação de um novo aporte no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
Segundo a ministra Marina Silva, a Alemanha anunciou que deve investir € 1 bilhão (cerca de R$ 6,150 bilhões) no fundo global.
🌳 💵 O QUE É O TFFF: O fundo é um mecanismo financeiro proposto pelo Brasil que usa um modelo de investimento de renda fixa para gerar recursos destinados à conservação de florestas tropicais. Não se tratam de doações. O lucro das aplicações será usado para remunerar países que mantêm suas florestas em pé, com prioridade para nações como Brasil, Indonésia e Congo.
“Tivemos a alegria de ver a Alemanha anunciar o seu aporte. Esse aporte está na ordem de 1 bilhão de euros para o TFFF, graças a todo o esforço que vem sendo feito e em demonstração de que, de fato, esse instrumento de financiamento global é muito bem desenhado, muito bem estruturado e começa a dar as respostas esperadas”, disse Marina em Belém ao final desta tarde.
Na Cúpula dos Líderes, a Pré-COP entre 6 e 7 de novembro, o país já tinha sinalizado apoio ao fundo, mas ainda não havia confirmado o valor.
Na época, o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, declarou que o país pretendia fazer uma contribuição “considerável”.
“Se a Alemanha diz que é considerável, será considerável”, completou o chanceler, repetindo a expressão três vezes em um coletiva de imprensa.
Nesta semana, Merz também ganhou destaque após comparar o Brasil com a Alemanha e dizer que a comitiva do seu país ficou contente de deixar Belém, onde está acontecendo a COP30. Um porta-voz do governo alemão afirmou que ele não vai se desculpar pela fala.
Além da Alemanha, o TFFF já reúne compromissos de Brasil (US$ 1 bi), Noruega (US$ 3 bi), Indonésia (US$ 1 bi) e França (US$ 500 mi).
“Nós estamos convencidos que o TFFF é uma excelente ideia”, afirmou o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Carsten Schneider, ao presidente Lula em Belém. Schneider está na capital paraense para representar o seu país na COP30.
O TFFF é considerado estratégico para o Brasil e para a COP30 porque se tornou uma das principais vitrines diplomáticas do país na conferência.
Na prática, o plano, anunciado inicialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, propõe que países com grandes áreas de floresta tropical, como Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo, sejam remunerados pela conservação dos biomas.
A ideia é que o mecanismo funcione como uma espécie de “renda florestal global”, atraindo investimentos públicos e privados para compensar o valor econômico de manter a floresta viva e não derrubá-la.
Estrutura e funcionamento do TFFF
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) pode ser resumido nos seguintes pontos:
- 💼 Estrutura: O TFFF adota um modelo de fundo de investimento com gestão de carteira de renda fixa voltado ao financiamento climático.
- 💰 Captação: Pretende mobilizar cerca de R$ 625 bilhões (US$ 125 bilhões) em recursos, combinando aportes de países e fundações com emissões de títulos no mercado financeiro.
- 📈 Alavancagem: A operação utiliza uma lógica de alavancagem financeira, multiplicando o capital inicial por meio da emissão de dívida de baixo risco.
- 🏦 Aplicação: O dinheiro será aplicado em ativos globais de renda fixa, com foco em investimentos seguros e sustentáveis que gerem retorno acima do custo do fundo.
- 🔄 Distribuição: A diferença entre o rendimento obtido e o valor pago aos investidores (spread) será usada para remunerar países que preservam florestas tropicais, proporcionalmente à área conservada.
- 🌱 Critérios: Pagamento anual por hectare de floresta preservado; destinação mínima de 20% dos recursos a povos indígenas e comunidades locais; proibição de investimentos em combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás).
- 🌳 Prioridade: Foco em países com grandes áreas tropicais, como Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo, além de outras nações em desenvolvimento com florestas úmidas.
Amazônia legal no Amazonas. — Foto: Bruno Kelly/Reuters
Amazônia legal no Amazonas. — Foto: Bruno Kelly/Reuters
O que é o TFFF e qual é a proposta?
O ponto de partida do TFFF é reconhecer que, na prática, a destruição das florestas tropicais ainda gera mais retorno econômico do que sua conservação.
A extração de madeira, a abertura de áreas para agricultura e a expansão urbana continuam sendo atividades lucrativas no curto prazo.
💰Já manter as florestas intactas, embora essencial para o clima e a biodiversidade, AINDA não oferece receita direta para os países responsáveis por essas áreas.
Por isso, o fundo foi criado para alterar essa lógica. O projeto propõe um sistema de pagamentos por desempenho, em que países tropicais seriam recompensados financeiramente pela manutenção de suas florestas.
O cálculo se baseia em dados de monitoramento por satélite e em padrões técnicos acordados internacionalmente, que permitem medir o nível de conservação de cada território
A cada hectare de floresta preservado, o país receberia um valor anual, que diminuiria se houvesse aumento de desmatamento ou degradação.
O objetivo é criar uma estrutura previsível de incentivos que ligue diretamente a conservação a ganhos financeiros. Dessa forma, a floresta passa a ter valor econômico contínuo, e a decisão de protegê-la se torna mais compatível com as metas de desenvolvimento.
Dessa forma, o TFFF se diferencia de mecanismos anteriores, como o REDD+ ou os mercados de carbono, pois propõe um modelo de pagamento direto pela floresta em pé, e não apenas pelo carbono que deixa de ser emitido.
🌳ENTENDA: O REDD+ é um mecanismo criado pela ONU que recompensa países pela redução de emissões de carbono causadas pelo desmatamento e pela degradação florestal.
Já o TFFF proposto pelo Brasil vai além da lógica do carbono, pagando diretamente pela floresta em pé e pela conservação de longo prazo das florestas tropicais.
Enquanto o REDD+ se baseia em resultados de emissões evitadas (gerando créditos de carbono), o TFFF pretende garantir financiamento contínuo e previsível, estimado em cerca de US$ 4 por hectare preservado por ano, captando recursos no mercado financeiro global.
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