Pré-síncope e pressão arterial baixa: compreenda a situação de Bolsonaro

Por Redação g1


Ex-presidente Jair Bolsonaro segue hospitalizado em Brasília

Ex-presidente Jair Bolsonaro segue hospitalizado em Brasília

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi internado em Brasília após uma crise de pressão baixa e precisou passar a noite no hospital.

De acordo com o médico Claudio Birolini, que o acompanha, a internação foi indicada após um quadro de mal-estar, queda da pressão arterial e vômitos. A defesa do ex-presidente informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que ele também apresentou um episódio de pré-síncope.

O que é pré-síncope e como se diferencia da síncope

A pré-síncope é caracterizada pela sensação de desmaio iminente, acompanhada de tontura e perda transitória de consciência. Para o cardiologista Pedro Xavier Fontes, do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), trata-se de um quadro que antecede a síncope.

“Na pré-síncope, o paciente sente tontura, escurecimento da visão e fraqueza, mas não chega a perder totalmente a consciência. Já na síncope, há desmaio de fato, quando o fluxo de sangue para o cérebro cai a ponto de provocar a perda da consciência”, explica.

Cirurgião cardiovascular do Hospital Beneficência Portuguesa, Ricardo Kazunori Katayose reforça que a pré-síncope é marcada pelos chamados pródromos — sinais de alerta que antecedem a perda de consciência.

“Náusea, vertigem, turvação visual, sudorese e palpitação são indícios de que o quadro pode evoluir para síncope”, afirma.

Segundo Alexsandro Fagundes, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), a principal diferença está na gravidade. “Na síncope há perda súbita e completa da consciência, seguida de recuperação em poucos minutos. Na pré-síncope, o paciente sente os sintomas, mas não chega a desmaiar”, resume.

Sintomas mais comuns

Segundo Marcelo Franken, cardiologista do Einstein Hospital Israelita, a pré-síncope ocorre principalmente pela queda da pressão arterial, mas também pode estar ligada a alterações da frequência cardíaca.

“Com a queda da pressão, há diminuição do fluxo sanguíneo cerebral, o que pode levar à pré-síncope ou à síncope. Quedas na frequência cardíaca também podem causar o mesmo efeito”, detalha.

Nesses casos, os sintomas que mais aparecem são:

  • Náuseas.
  • Mal-estar.
  • Vômito.
  • Tontura.
  • Escurecimento visual.
  • Palidez.
  • Sudorese fria.
  • Palpitações.
  • Fraqueza.

Franken lembra que, no caso de Bolsonaro, fatores como anemia e desidratação — identificados em exames recentes — podem ter contribuído para o episódio.

Fontes acrescenta que o número da pressão em si não é suficiente para definir o quadro. “O que caracteriza uma crise de pressão baixa é a associação entre a queda da pressão e sinais clínicos como tontura, visão turva e, em alguns casos, desmaios”, diz.

Katayose concorda: “As diretrizes não trazem consenso sobre valores exatos porque cada pessoa pode apresentar sintomas em níveis diferentes. O que define a gravidade são os sinais, como desmaios, sensação de frio e confusão mental”, completa.

Por que a pressão pode cair

Os especialistas destacam que a queda da pressão pode ser provocada por diferentes fatores. Fontes cita os mais comuns: “Desidratação, uso de medicamentos, sangramentos, infecções graves e alterações cardíacas, como insuficiência ou arritmia”. Ele cita, ainda, a chamada hipotensão postural, quando a pressão cai ao se levantar de forma rápida.

Katayose amplia a lista, mencionando causas metabólicas e estruturais.

“Hemorragias, infartos, arritmias, anemias, hipoglicemia, doenças que obstruem o fluxo sanguíneo — como estenose da válvula aórtica ou das artérias carótidas — e até respostas vagais ligadas a emoções intensas podem desencadear o problema”, explica.

Fagundes acrescenta o papel dos medicamentos. “Além da desidratação e da anemia, remédios para pressão arterial, antidepressivos, psicotrópicos e alguns usados para Alzheimer podem contribuir, especialmente em idosos”, afirma.

Quando é passageiro e quando preocupa

Na maioria das vezes, a queda de pressão é transitória e melhora com medidas simples, como repouso e hidratação. “Se a pessoa estava em ambiente quente, ficou muito tempo em pé ou praticou esforço físico intenso, os sintomas costumam desaparecer espontaneamente”, afirma Fontes.

No entanto, quando não há melhora rápida ou quando o paciente tem histórico de doenças cardíacas, o alerta deve ser maior. “Se a tontura é frequente, se há desmaios recorrentes ou se o quadro aparece em contexto de sangramento e infecções graves, pode ser sinal de algo mais sério”, alerta Katayose.

Exames e cuidados preventivos

Em casos de repetição dos sintomas, exames podem ajudar a identificar a causa. O mais importante é procurar um médico, que vai direcionar a investigação a partir da anamnese e do exame físico.

“Quando há suspeita cardíaca, utilizamos o Holter para detectar arritmias, o ecocardiograma para avaliar a estrutura e o funcionamento do coração, e o MAPA, que monitora a pressão arterial por 24 horas. O tilt test pode mostrar respostas vasovagais ou ortostáticas, e exames laboratoriais podem identificar alterações metabólicas, como a anemia”, detalha Katayose.

A atenção deve ser ainda maior em pessoas mais velhas. “Jovens, em geral, têm episódios ligados a fatores externos, como jejum ou desidratação, e correm menos risco. Já nos idosos, as causas costumam estar relacionadas a problemas cardíacos ou metabólicos, que são mais perigosos”, ressalta o cirurgião cardiovascular.

Para lidar com crises, medidas práticas também fazem diferença. “Deitar a pessoa em um local seguro e elevar as pernas ajuda a melhorar a perfusão cerebral. No dia a dia, manter-se hidratado, praticar exercícios e evitar levantar-se bruscamente são formas simples de reduzir o risco”, recomenda o presidente da SOBRAC.

Histórico médico recente

No domingo (14), Bolsonaro já havia estado no hospital para retirar lesões na pele. Segundo boletim médico, foram removidas oito lesões no tronco e no braço direito, em cirurgia feita sob anestesia local e sedação. O procedimento transcorreu sem intercorrências, e o material foi encaminhado para biópsia.

Exames também detectaram anemia, e uma tomografia do tórax mostrou imagem residual de pneumonia recente por broncoaspiração. O hospital relatou que o ex-presidente recebeu reposição de ferro por via endovenosa e passaria por avaliação para possível tratamento complementar.

Jair Bolsonaro deixa hospital de Brasília após realizar procedimento para tratar lesão na pele — Foto: REUTERS/Adriano Machado

Jair Bolsonaro deixa hospital de Brasília após realizar procedimento para tratar lesão na pele — Foto: REUTERS/Adriano Machado



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