PCC utiliza ferros-velhos para levar drogas à Cracolândia, afirma o Ministério Público.

Por g1 SP e TV Globo — São Paulo


PM afirma que prendeu Alessandra Moja, alvo da operação na favela do Moinho

PM afirma que prendeu Alessandra Moja, alvo da operação na favela do Moinho

O grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC) usa ferros-velhos e carros de reciclagem para esconder e transportar drogas da Favela do Moinho para a Cracolândia, no Centro de São Paulo. É o que aponta relatório do Ministério Público (MP) estadual.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP de São Paulo realizou nesta segunda-feira (8) a Operação Sharpe na comunidade do Moinho para prender suspeitos de participarem do tráfico de drogas na região.

No total, oito pessoas foram presas pela Polícia Militar (PM) durante a operação até a última atualização desta reportagem. Foram detidos 7 dos 10 alvos que tiveram mandados de prisões preventivas decretados pela Justiça. Outros três são considerados foragidos. E um homem, que não era procurado, foi preso em flagrante.

Os presos foram levados para a Polícia Civil, onde serão interrogados e autuados por organização criminosa, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, recepção e crime ambiental.

De acordo com promotores do Gaeco, há provas do envolvimento deles com o esquema criminoso. Também estão sendo cumpridos 21 mandados de busca e apreensão: 12 celulares foram apreendidos até as 9h desta segunda.

Família Moja

Leo do Moinho foi preso em 2024 por tráfico de drogas na Favela do Moinho — Foto: Reprodução

Leo do Moinho foi preso em 2024 por tráfico de drogas na Favela do Moinho — Foto: Reprodução

Segundo as investigações, que contaram com informações do setor de inteligência da PM, a estrutura criminosa é liderada pela família Moja. Os policiais fotografaram carroceiros suspeitos transportando drogas (veja abaixo).

Mesmo após a prisão de Leonardo Monteiro Moja, conhecido como Léo do Moinho, no ano passado, seus parentes continuavam comandando o tráfico de entorpecentes na região central. O Gaeco ainda suspeita que, mesmo preso, Léo dava ordens sobre as ações criminosas a partir da Favela do Moinho. Ele atuava para o Primeiro Comando da Capital na distribuição e venda de drogas.

Entre os detidos na operação desta segunda estão Alessandra Moja Cunha, irmã de Léo, e a filha dela, Yasmin Moja Flores. Além disso, foram presos Jorge de Santana, dono de um bar usado para guardar drogas e armas, e José Carlos da Silva, apontado como substituto de Léo no comando do tráfico.

Os outros presos suspeitos de participar do esquema criminoso são: Leandra Maria, Paulo Rogério e Cláudio Celestino, o MC Xocolate.

O g1 não localizou as defesas dos presos.

Como o esquema funcionava

Carroceiros transportavam drogas da Favela do Moinho para a Cracolândia, segundo Gaeco do MP-SP — Foto: Reprodução

Carroceiros transportavam drogas da Favela do Moinho para a Cracolândia, segundo Gaeco do MP-SP — Foto: Reprodução

De acordo com a representação do MP entregue à Justiça, Alessandra assumiu papel central na administração de ao menos seis ferros-velhos e locais de reciclagem na Favela do Moinho que recebiam as drogas para a facção criminosa.

Depois contratava carroceiros de materiais de reciclagem para transportarem as drogas da Favela do Moinho até a Cracolândia. Os entorpecentes iam escondidos entre fios e materiais elétricos, alguns deles furtados de postes de iluminação.

Alessandra comandava uma associação de moradores da Favela do Moinho que organizava protestos contra a desocupação da comunidade.

Cerca de 800 famílias chegaram a ocupar o lugar. Em abril deste ano, o governo de São Paulo lançou a Operação Dignidade Comunidade do Moinho, para oferecer moradia a quem vive na favela. Parte dos moradores irá para imóveis da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Em junho, foram anunciados os detalhes do programa, em parceria com o governo federal. Pouco mais da metade dos moradores já deixou a favela.

Segundo o Gaeco, os ferros-velhos e centros de reciclagem da Favela do Moinho funcionam como esconderijos e depósitos de drogas, armas e “tribunais do crime” do PCC. Um “tribunal do crime” é um local em que a facção “julga” seus membros ou desafetos por algo considerado “errado” pela organização criminosa. Entre as punições impostas estão assassinatos e agressões.

Para o Ministério Público, uma das maneiras de interromper o ciclo do tráfico de drogas do PCC na Favela do Moinho e na Cracolândia é suspender as atividades de ferros-velhos e centros de reciclagem.

Essas empresas operam sem as licenças ambientais necessárias nem funcionários registrados, utilizando dependentes químicos em condições insalubres e degradantes para realizar trabalhos exaustivos e perigosos.

Os materiais recolhidos, frequentemente de origem ilícita (frutos de furtos e roubos), também são absorvidos por essa rede.

A lavagem de dinheiro é realizada por meio de movimentações financeiras atípicas, muitas vezes incompatíveis com a renda declarada dos envolvidos, com saques fragmentados em espécie e transferências entre as diversas empresas e os indivíduos da rede.

Documentos internos indicam que esquemas de notas fiscais fraudulentas são utilizados para simular a venda de grandes quantidades de material, mesmo sem estoque físico.

Segundo a investigação, o grupo também cobrava dinheiro de moradores que aceitavam deixar a comunidade para viver em imóveis oferecidos pela CDHU.

A Favela do Moinho surgiu no final dos anos 1970 sob o Viaduto Engenheiro Orlando Murgel, no bairro Campos Elíseos. A ocupação se consolidou na década de 1990, com a chegada de mais famílias. Desde 2024, vem sendo alvo de operações policiais e judiciais.

Operação do MP e da PM prende três acusados de chefiar tráfico de drogas na Favela do Moinho, no Centro de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

Operação do MP e da PM prende três acusados de chefiar tráfico de drogas na Favela do Moinho, no Centro de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

Policia realiza operação contra o tráfico na favela do Moinho

Policia realiza operação contra o tráfico na favela do Moinho



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