‘Tínhamos que fazer sexo, querendo ou não’, diz brasileira que relata ter sido abusada por Epstein e foi peça-chave em julgamento
Em entrevista à rede dos EUA ABC News, Marina Lacerda afirmou ter apenas 14 anos quando foi aliciada a uma rede de abusos de menores comandada por Jeffrey Epstein, bilionário condenado por tráfico sexual. Polêmica sobre caso criou crise no governo Trump.
Por Redação g1
-
Uma brasileira revelou nesta quarta-feira (3) ter sido uma das vítimas abusadas pelo empresário Jeffrey Epstein, nos Estados Unidos.
-
Marina Lacerda afirmou que os abusos aconteceram quando ela tinha apenas 14 anos, em Nova York.
-
Marina, hoje com 37 anos, foi uma das vítimas que participaram de uma coletiva de imprensa para pedir que o Congresso dos EUA aprove uma lei que obrigue a divulgação de todos os documentos da investigação do caso.
-
A brasileira afirmou que conheceu Epstein em 2002, quando tinha 14 anos. Ela contou que, à época, tinha três empregos para tentar sustentar a mãe e a irmã.

Quem é Marina Lacerda, a brasileira que relatou ter sido abusada por Epstein
“A casa dele era uma porta giratória de meninas. Toda hora entrava e saía alguém”.
Marina Lacerda, a brasileira que afirmou na quarta-feira (3) ter sido uma das vítimas abusadas pelo empresário Jeffrey Epstein, nos Estados Unidos, deu detalhes sobre os anos em que, segundo ela, fez parte de uma rede de meninas forçadas a encontros sexuais com o empresário.
Em entrevista à rede norte-americana ABC News, Lacerda disse que Epstein abusava de “até dez mulheres por dia”. Na ocasião, segundo a brasileira, ela tinha apenas 14 anos.
“A casa dele era uma porta giratória. Sempre tinha garotas. Se ele estava em Nova York, passava uma semana inteira com o máximo de garotas possível. Eu diria que ele tinha encontros com umas cinco a oito mulheres, talvez até mais, talvez até dez mulheres por dia”, relatou a brasileira.
Marina Lacerda revela abusos de Jeffrey Epstein durante entrevista para TV americana — Foto: ABC News/Reprodução
Marina Lacerda revela abusos de Jeffrey Epstein durante entrevista para TV americana — Foto: ABC News/Reprodução
À ABC, ela disse que foi chamada para fazer massagens, mas terminou envolvida em uma rede de abuso de menores.
“Eu não esperava o que aconteceria naquele dia (…), porque com Jeffrey Epstein, tínhamos que fazer sexo, querendo ou não”.
- 🔍 Jeffrey Epstein, condenado por tráfico sexual e morto na cadeia em 2019, tinha relações com figuras influentes, entre elas Donald Trump.
- 🔍 A ligação virou tema sensível para o governo dos EUA após o nome do presidente aparecer em documentos do caso. Trump nega envolvimento e diz ter rompido com Epstein em 2004.
Marina Lacerda foi peça-chave para o julgamento de Epstein, que acabou condenado por tráfico sexual em 2019.
Segundo a ABC News, as evidências fornecidas por Lacerda à época das investigações deram aos promotores do caso “evidências essenciais” que levaram à acusação e posterior condenação do empresário.
Na entrevista à rede norte-americana, a brasileira afirmou que passou a integrar uma rede de meninas recrutadas em Nova York e forçadas a encontros sexuais com o empresário.
Em determinado momento, Marina disse ter acreditado que poderia receber uma proposta de emprego de Epstein que poderia mudar a vida dela e da família para melhor.
“Eu pensava que, se eu apenas jogasse o jogo, não seria mais só essa imigrante do Brasil, e teria algo a esperar do futuro”, contou.
A brasileira Marina Lacerda durante coletiva de imprensa em 3 de setembro de 2025 — Foto: REUTERS/Jonathan Ernst
A brasileira Marina Lacerda durante coletiva de imprensa em 3 de setembro de 2025 — Foto: REUTERS/Jonathan Ernst
Segundo ela, os abusos duraram três anos. Marina relatou que, aos 17 anos, o bilionário começou a perder o interesse por ela por ficar “velha demais”.
Na quarta-feira, em discurso em um ato na frente do Congresso, Marina Lacerda afirmou que os abusos aconteceram quando ela tinha apenas 14 anos.
Marina, hoje com 37 anos, participou de uma coletiva de imprensa na quarta-feira (3) para pedir que o Congresso dos EUA aprove uma lei que obrigue a divulgação de todos os documentos da investigação sobre o caso. (Veja detalhes sobre os crimes mais abaixo).
A brasileira afirmou que conheceu Epstein em 2002, e que, à época, havia acabado de se mudar para os EUA com a mãe e a irmã. As três dividiam um quarto no bairro do Queens, em Nova York.
Marina disse ainda que trabalhava em três empregos para tentar sustentar a família. Foi neste momento que apareceu a oportunidade de conhecer Epstein, apresentada como uma proposta de trabalho.
“Uma amiga minha do bairro me disse que eu poderia ganhar US$ 300 para dar uma massagem em um cara mais velho”, contou. “Isso passou de um emprego dos sonhos para o pior pesadelo.”
A brasileira contou também que chegou a ser procurada pelo FBI em 2008, mas não foi ouvida pela Justiça porque Epstein havia assinado um acordo judicial. Ela só pôde depor sobre o caso 11 anos depois, quando a investigação foi reaberta.
“Como imigrante do Brasil, eu me sinto fortalecida em saber que a garotinha que lutava para sobreviver aos 14 e 15 anos finalmente tem uma voz”, disse nesta quarta-feira.
A coletiva de imprensa da qual Marina participou foi organizada pelos deputados Thomas Massie, republicano, e Ro Khanna, democrata. Mesmo sendo de partidos opostos, ambos tentam pautar no Congresso a votação de um projeto sobre arquivos da investigação.
A proposta em questão visa a divulgação de todos os documentos sigilosos, incluindo os que estão sob posse do FBI e dos escritórios de procuradores dos EUA.
Crise no governo Trump

Jeffrey Epstein: quem foi, quais crimes cometeu e qual a associação com Trump
Jeffrey Epstein tinha conexões com milionários, artistas e políticos influentes. Entre 2002 e 2005, ele foi acusado de aliciar dezenas de meninas menores de idade para encontros sexuais em suas mansões.
Em 2008, Epstein chegou a firmar um acordo com a Justiça para se declarar culpado. Em 2019, o caso voltou à tona, quando autoridades federais consideraram o acordo inválido e determinaram a prisão do bilionário por tráfico sexual.
O bilionário morreu na cadeia poucos dias após ser preso. Segundo as autoridades, ele tirou a própria vida.
Durante a campanha eleitoral de 2024, o então candidato Trump prometeu divulgar uma lista com os nomes de pessoas supostamente envolvidas no esquema de exploração sexual liderado por Epstein. Em fevereiro deste ano, alguns documentos chegaram a ser publicados pelo governo.
Em um desses arquivos, o nome de Trump aparece ao lado de outras pessoas em registros de voos ligados ao bilionário. É de conhecimento público que os dois foram próximos nos anos 1990. Trump, no entanto, não é investigado nesse caso.
Ainda em fevereiro, a procuradora-geral Pam Bondi chegou a insinuar que havia uma lista de clientes de Epstein sobre a mesa dela para ser revisada. Esse documento, no entanto, nunca foi divulgado.
Mais recentemente, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos informou que não existe nenhuma lista de clientes nos documentos relacionados à investigação. O próprio presidente Trump passou a afirmar que tal documento é uma farsa.
A mudança de versão irritou a base de apoiadores do republicano. Muitos desses eleitores compartilham teorias da conspiração sobre o caso Epstein e exigem a divulgação completa das informações sobre a rede de exploração sexual.
VÍDEOS: mais assistidos do g1