Castro e governadores aliados anunciam ‘consórcio da paz’ em reunião no RJ após megaoperação
Encontro no Palácio Guanabara debate o combate ao crime organizado. Reunião ocorre dois dias após megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, que deixou 121 mortos, incluindo quatro policiais.
Por Guilherme Peixoto, Raoni Alves, RJ2 e g1 Rio
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Governadores de seis estados participam, na tarde desta quinta-feira (30), de uma reunião no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, para discutir medidas de segurança pública. 
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O encontro ocorre na mesma semana da operação policial mais letal da história do estado, que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, incluindo quatro agentes de segurança. 
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Estão presentes no encontro os governadores Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul; e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, que participa de forma virtual, além de Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal. 
 
 Governadores anunciam ‘consórcio da paz’
Seis governadores aliados se reuniram nesta quinta-feira (30), no Rio de Janeiro, e anunciaram a formação do que chamaram de “consórcio da paz” para combater a violência de forma coletiva. Segundo os governadores, o objetivo é integrar forças de segurança e equipes de inteligência. Não foram anunciadas medidas concretas para o combate efetivo da violência.
A reunião no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, ocorreu após a megaoperação policial que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão. O governador Cláudio Castro (PL-RJ) foi parabenizado por outros governadores pela ação.
“Faremos um consórcio no modelo de outros que já existem para que nós possamos dividir experiências e soluções do combate ao crime organizado e da libertação do nosso povo. Vamos discutir estratégias e eu propus que a sede desse consórcio seja no Rio de Janeiro”, disse Castro.
“Temos uma grande oportunidade de mudarmos a segurança pública do nosso país, com integração e diálogo, mas sobretudo com coragem e efetividade”, completou o governador do Rio de Janeiro.
Castro disse ainda que uma nova reunião será feita para convidar outros estados a participar do consórcio.
 
 Governadores se reúnem no Rio para discutir segurança pública após operação mais letal da história — Foto: Reprodução TV Globo
Governadores se reúnem no Rio para discutir segurança pública após operação mais letal da história — Foto: Reprodução TV Globo
Além de Castro, participaram do encontro os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul; e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, que participou de forma virtual, além de Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal.
A reunião foi articulada após um encontro virtual realizado na quarta-feira (29), quando os governadores manifestaram apoio à operação policial e decidiram enviar representantes ao Rio para debater estratégias conjuntas de enfrentamento ao crime organizado.
Organizado pelo governador Jorginho Mello, o encontro também serve para reforçar a união desse grupo político no combate à violência.
Ainda sobre o consórcio, Caiado e Jorginho Mello deram mais detalhes sobre o projeto que pretende reunir todos os 27 estados da federação.
“A tese do consórcio é exatamente fazer com que todas as nossas forças integradas com base na inteligência e a parte operacional, possam ser utilizadas para poder atender qualquer um dos governadores num momento emergencial, sem ter que perguntar (…) Com deslocamento imediato. Então, isso dá uma agilidade”, explicou Ronaldo Caiado.
“Vamos integrar os estados com todos os meios: contingência, inteligência, apoio financeiro. O que tiver que ser feito nós vamos fazer. Claro que nós vamos fazer um regulamento agora, o consórcio foi criado hoje. Mas a ideia é que a gente possa emprestar o que cada um tem de melhor”, disse Mello.
Governadores elogiam megaoperação
Todos os presentes ao encontro elogiaram a megaoperação das forças de segurança do Rio de Janeiro nos complexos do Alemão e da Penha, que terminou com mais de 120 mortos e mais de 100 presos.
“Nós estamos aqui para cumprimentar a polícia do Rio de Janeiro pela coragem da operação, pelo sucesso da operação. Tenho certeza que vocês vão ficar na história do Brasil, pela coragem, profissionalismo e pala forma que fizeram para conseguir esse resultado”, comentou Mello.
 
 Megaoperação com cerca de 2.500 policiais civis e militares é deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, nesta terça- feira, 28 de outubro de 2025. — Foto: Jose Lucena/TheNewsS2/Estadão Conteúdo
Megaoperação com cerca de 2.500 policiais civis e militares é deflagrada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, nesta terça- feira, 28 de outubro de 2025. — Foto: Jose Lucena/TheNewsS2/Estadão Conteúdo
Para o governador Romeu Zema, a operação de terça-feira foi bem planejada e executada, visto que o saldo de armas apreendidas e prisões foi “muito positivo”.
“Quero dar os parabéns a ele (Castro) e as forças de segurança do Rio de Janeiro, que fizeram uma operação que vai fazer parte da segurança pública no Brasil. A operação tem sido considerada a mais letal, mas na minha opinião deveria ser considerada a mais bem sucedida”, disse o governador de Minas Gerais.
“Não ouvi falar de inocente morto, que é o que mais acontece no Brasil. O que nós tivemos aqui foi a maior apreensão de armas, a maior apreensão de criminosos. O que eu vi foi isso”, analisou Zema.
 
 Arsenal de fuzis apreendido na Penha e no Alemão incluía armas de exércitos de Venezuela, Argentina, Peru e Brasil
A vice-governadora do DF, Celina Leão, cobrou maior participação do Governo Federal no combate à violência no país.
“Quando o governo federal elenca um tema que ele quer resolver no país, ele reúne as bancadas federais, senta com o colégio de líderes, faz acordo, libera emendas e resolve o problema”.
“Qual foi a grande reunião que fizeram com os parlamentares? Pra votar imposto se chama deputado, pra mudar legislações pra beneficiar empresário se chama deputado e pra cuidar da segurança da população? (…) Muitos líderes têm medo de falar. E as pessoas estão caladas, com medo em suas casas. No Rio e em São Paulo, carro blindado não é luxo é necessidade”, cobrou Celina.
ADPF
Cláudio Castro voltou a fazer elogios a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que validou em abril um conjunto de regras que definem como devem ser feitas as operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro.
As medidas fazem parte da chamada ADPF das Favelas, ação que levou ao Supremo o debate sobre a atuação das forças de segurança em áreas de alta vulnerabilidade.
“Uma decisão que aponta um caminho claro (ADPF), de retomada de território, de integração, de financiamento. E que o Rio de Janeiro, através dessa decisão brilhante do STF, possa ser esse grande laboratório, já que ele hoje é o epicentro que ele possa virar o laboratório dessa que pode ser a ação que mude a história do Brasil”, analisou.
Escritório emergencial
Na quarta-feira (29), o governador Cláudio Castro e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciaram a criação do Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado. O núcleo será coordenado pelo secretário de segurança do Rio, Victor Santos, e terá apoio do Governo Federal.
 
 Castro e Lewandowski anunciam criação de escritório emergencial contra o crime organizado
Entre as medidas anunciadas estão o envio de 50 agentes da Polícia Rodoviária Federal e o reforço na área de inteligência. Lewandowski também mencionou a disponibilização de vagas em presídios federais e de peritos para auxiliar nas investigações.
Durante o anúncio, Castro voltou a usar o termo “narcoterrorismo” para se referir ao Comando Vermelho e afirmou que, por ora, não vê necessidade de solicitar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ao Governo Federal.
Nova lei
Ainda na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que endurece o combate ao crime organizado e amplia a proteção de autoridades e servidores públicos envolvidos nessa área. A medida foi publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira (30).
De autoria do senador Sergio Moro (União-PR), a nova legislação cria dois novos tipos penais:
- Obstrução de ações contra o crime organizado: prevê pena de 4 a 12 anos de prisão para quem ordenar ou oferecer vantagens para que alguém pratique violência ou ameaça contra autoridades, testemunhas ou colaboradores.
- Conspiração para obstrução: pune acordos entre duas ou mais pessoas para planejar atos de violência com o mesmo objetivo, mesmo que não sejam executados.
A lei também prevê reforço na segurança pessoal de juízes, membros do Ministério Público, policiais e militares — inclusive aposentados — e seus familiares, quando estiverem sob risco em razão do exercício de suas funções.